Um dos objetos que mais gosto de pesquisar são revistas antigas, tanto pelo conteúdo, como pela estética. Através das ilustrações, por exemplo, é possível fazer uma pequena análise de aspectos da época, como transformações estilísticas, eventos importantes, novos conceitos e paradigmas, entre outros tantos. E, por estas e outras razões que venho há algum tempo me interessando pela revista Die Neue Linie, importante publicação decorrente do pensamento da escola Bauhaus. Publicada pela Beyer-Verlag (editora da época) entre os anos de 1929 e 1943, a revista ia no caminho das ideias vanguardistas propostas pela Bauhaus. A escola, que teve Walter Gropius como idealizador e primeiro diretor, propunha o desenvolvimento de uma síntese estética, com a criação de símbolos universais de comunicação da imagem e um trabalho integrado entre indústria e arte.
A Die Neue Linie é considerada uma revista pioneira, que possuía como parâmetro conceitos e inovações no pensamento artístico que surgiam. Como a sociedade da época tinha cada vez mais exigências modernas, a revista abordava temas ligados ao bem-estar, à criações na arquitetura e até mesmo à moda. A partir dos pressupostos da Bauhaus, a parte gráfica incorporava elementos da tipografia moderna, diagramações equilibradas, formas claras e montagens de fotos.
Mestres da Bauhaus, que faziam parte dos movimentos artísticos da vanguarda europeia, como o húngaro László Maholy-Nagy e Herbert Bayer formavam o quadro de escritores e realizadores da revista. Junto com eles, contribuíam com artigos alguns dos mais importantes autores da época, como Gottfried Benn, Thomas Mann e Aldous Huxley.
Com um olhar mais atento às ilustrações, vê-se a correspondência com alguns dos propósitos estéticos da escola alemã. Composição plástica decorrente das teorias desenvolvidas por seus mestres, equilíbrio de formas e geometrismos são alguns dos elementos encontrados que, combinados entre sim, produziam contexturas atrativas. Cenários com elegantes mulheres da República de Weimar e figuras híbridas, como uma construção com rosto de mulher, eram imagens frequentes da revista.
A cor – um dos elementos centrais e tema de estudos teóricos importantes como o de Goethe e posteriormente o de Johannes Itten - parece assumir um caráter autônomo nas ilustrações. É bom lembrar que desde a metade do século XIX a cor desvincula-se de seu compromisso com o objeto na pintura e, por esta razão, a teoria das cores de Goethe começava a influenciar as reflexões do meio artístico. Portanto, nas ilustrações da Die Neue Linie, os efeitos cromáticos funcionavam como uma linguagem própria, despertando sensações, interpretações, aproximando-se ou afastando-se do espectador à partir da percepção visual. O intuito sempre ligado às qualidades estéticas das cores e ao olhar subjetivo do espectador na criação de uma comunicação visual eficaz.
Um outro ponto a considerar é que as capas assumiram um importante papel quando instalou-se o governo nazista e, mais especificamente, quando a guerra começou. Com os limites ao jornalismo sendo impostos pelos nazistas, não raro eram as ilustrações ligadas ao tema militar.
Para quem tiver a oportunidade, o Bauhaus-Museum, na cidade de Weimar, promove até o dia 8 de novembro a exposição Die Neue Linie.Das Bauhaus am Kiosk, em comemoração aos 90 anos da escola alemã - tentativa sem sucesso de fugir do aforismo. Certamente uma viagem cultural a uma das principais peças da originalidade surgida no interior da Bauhaus.